Uma resposta simples seria suficiente para a despretensiosa pergunta “como foi o seu ano?”, uma questão na maioria das vezes jogada ao acaso, sem que haja interesse verdadeiro em se ouvir uma resposta mais extensa que “foi bom” ou "foi ruim” ou o clássico e seguro “foi mais ou menos”, esta que deixa pouco espaço para debates (ufa, perguntei só para ser educado, é como falar do tempo, se vai chover ou não, e essa outra vem agora querer tagarelar).
Para o caso de haver algum interesse perdido por aí, digo, penso e escrevo, o que foi esse ano?
Uma sucessão de atropelamentos e uma bigorna.
Como nos desenhos animados, o personagem malvado é atropelado por um carro, cai, se machuca, se reergue vendo estrelas girando ao redor da cabeça e, quando parece pronto para reagir, vem um caminhão e o derruba ao solo novamente. E em seguida um outro carro, uma moto, muitas bicicletas (talvez uma prova ciclística) e, porque não, tudo termina com a bigorna caindo-lhe sobre a cabeça, achatando seu corpo. A derrota do malvado.
Não sei dizer o quão malvada eu tenho sido (Deus? Se quiser me contar, deixe um comentário), ou se apenas fui azarada, ou foi coincidência, mas definitivamente tive que aprender neste glorioso 2013 a ser atropelada e levantar, levantar e depois levantar e até sorrir, como se nada fosse.
E explicando a metáfora, o que seriam esses veículos que nos derrubam na estrada, durante um ano?
Fácil: a tristeza e ausência de esperança nos seus dias de tédio e dificuldade; uma mente exausta fazendo par com um coração sem graça em um corpo cansado; seus milhões de erros estúpidos expostos, estragando tudo o que você produz. E claro, inclua-se aí as cerejinhas do bolo: a explosão de felicidade ao redor no seu dia mais triste; o amor transbordando na vizinhança na sua fase mais ressentida; o sucesso alheio brilhando na sua cara enquanto você recolhe os cacos dos seus erros estúpidos (não existem erros de outro tipo, afinal).
Enquanto você está no chão, vendo quantos dentes perdeu e se recuperando das pancadas, o que pode te motivar a ficar em pé?
Duas coisas quase opostas: ignorar a vida das pessoas em volta e engrandecer a presença das pessoas em volta. As primeiras, as pessoas “normais”, mornas, que não fazem tanta diferença na sua vida que importa e, portanto, não devem te afetar mais que por um piscar de olhos. Já as pessoas maiores, “especiais”, aqueles seres escolhidos a dedo, são os tais que por diversos motivos, melhoram seus dias, semanas e meses do ano.
Creio que a receita ideal é exercitar a convivência pacífica com os ditos “normais” (nem que seja por egoísmo, é melhor para você assim) e não perder jamais de vista os “especiais”. Com estes últimos, peça ajuda, mantenha contato. Eles gostam de você, não vão se incomodar. Funciona mesmo. E fique atento: pode acontecer de você confundir um tipo “normal” com um “especial” e ter gratas ou ingratas surpresas. Não importa qual o resultado, neste caso é sempre melhor saber a verdade.
Uma destas pessoas importantes, que deve ser tratada como especial igualmente, é aquela sua imagem projetada no futuro. Um “você” melhorado que aponta ali na esquina no próximo ano, que depois de fraturas, escoriações e dor, aprendeu a desviar dos carros, a olhar para os dois lados antes de atravessar uma avenida movimentada e, acima de tudo, sabe que a cicatriz existe para que você olhe e sempre lembre o que te fez chegar ali, para fazer de novo ou nunca mais fazer, ou fazer e errar de novo e descobrir que nem dói tanto assim.
Portanto, querido 2013, você me amassou, quebrou meus ossos, me jogou seu peso na cabeça, esfregou as verdades na minha cara e fez questão de ressaltar tudo o que eu quero e que me falta, me fez sentir unicamente infeliz (e muito, muito cansada), mas eu lhe digo: a bigorna nem era tão pesada e nem doeu tanto assim, que venham os próximos, todo mundo sofre e é feliz em algum momento na vida e tudo passa.
E como diria o velho (?) ditado da nossa geração “internetes”: #chupabigorna #chupa2013 #quemnãoagregavalorsaipralá #ganhei
Feliz 2014 a todos.
Um comentário:
WOW! Muito, muito, muito bom! E faço minhas as tuas palavras. Um ótimo 2014!
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