Tentativa 2 - Um cafajeste típico

Passada a ressaca emocional, Flora decidiu que era uma boa hora para se afirmar como mulher bem resolvida. Iludir-se com homens imprestáveis não a levaria a lugar algum, muito menos a um lugar feliz.

Não iria mais depender das caronas bondosas de amigos e namorados. Foi à busca de um carro.

Seu pai ofereceu-se como orientador, guia, enfim, um escudo anti-golpe, contra os vendedores malandros que gostam de tirar vantagem dos clientes desavisados - mulheres bem resolvidas, em especial. Mas Flora recusou. Enfrentaria a aventura sozinha.

Havia pesquisado, lido tudo e mais um pouco sobre carros, motores, modelos, preços, montadoras, opcionais e quando percebeu, já estava se inscrevendo no fã-clube do Felipe Massa. Base teórica pronta, começou a romaria nas concessionárias.

Depois de horas e horas de entra-carro-sai-carro, chegou à última do dia, faltando meia hora para fechar. Os vendedores olharam mortalmente para ela, exceto um, que prontamente a atendeu.

- Olá, senhorita, posso ajudar?

O rapaz era bem atraente, simpático e demonstrava entender muito do negócio de carros e afins. "Fica ainda mais bonito nesse uniforme", pensou Flora.

Ela saiu da concessionária de carro zero e com um cartão para contato com o prestativo Levistraus. Levi, para os íntimos.

Apesar de o seu pai garantir que ela poderia ter pago uns 2000 reais a menos, Flora pouco se importava. Aquele papo de autonomia feminina rendeu-se ao carisma do vendedor de carros. Em poucas semanas, já namoravam.

Como Flora havia tirado a carta há muito tempo e não dirigia desde então, Levi era o condutor do carro na maior parte do tempo. Em um feriado prolongado, fizeram uma curta viagem, da qual voltaram noivos.

Flora jamais imaginou que iria ter a felicidade ao alcance tão rápido, depois daquele baque do casamento cancelado em cima da hora. Levi era carinhoso, um verdadeiro cavalheiro, e ainda fez questão de acompanhar os preparativos da cerimônia.

- Levi, parece um sonho! Hoje é dia de experimentar o meu lindo vestido branco, marcar o Dia da Noiva no salão e conferir a encomenda na gráfica. Você me deixa na loja de vestidos?

- Claro, meu amor. De lá, eu vou passar na casa de uns parentes aqui na cidade vizinha, para confirmar se eles vêm mesmo para a festa.

- Mas você volta a tempo de me buscar? Você não poderia só ligar para eles?

- Volto sim, querida! É que... faz tempo que não os vejo, é uma data especial na minha vida, eles vão se sentir mais honrados se eu for convidar pessoalmente... coisas de parentes, sabe? Além do mais, eu bem sei que você vai se entreter o dia todo com os preparativos. No fim da tarde eu estou de volta.

Vivendo o seu sonho durante todo aquele dia, o mundo começou a desmoronar quando Flora chegou na portaria do seu prédio e pegou a correspondência. Havia uma carta de Levistraus Peixoto. Sentiu um frio na barriga familiar ao rasgar o envelope.

" Querida Fauna. Adoraria me casar com você, mas não estou preparado. O problema não é você, sou eu. Decidi que vou viajar por um tempo. Como você esqueceu de levar alguns documentos no despachante, coloquei o carro no meu nome, mas isto é um detalhe que resolveremos com calma quando eu voltar, não se preocupe.

Sucesso!!

Levi ".

- Fauna? Sucesso?? MEU CARRO!!!! Ahhhh...

Flora desmaiou e por causa da crise de stress ficou uma semana hospitalizada. Os pais tomaram conta dos cancelamentos de eventos, compras e dos convites na gráfica. E agüentaram firme as piadinhas.

Waidy estava novamente perplexo.

- Canalha, te roubou! Ladrão mau-caráter! Mas você está com um carro novinho agora, como isto se resolveu?

- Ah, querido, corri atrás. Nem a pau ele iria tirar meu carro de mim. Acabei descobrindo que na verdade, ele estava fugindo, pois tinha dois filhos de outros relacionamentos e há meses não pagava pensão. Acabou preso e todo enrolado, tanto que retirei a queixa.

- Minha linda, você é muito coração mole... Deixou esse delinqüente sair livre?

- Que nada, amor, problema é o que não faltava para ele, com as ex-mulheres. Ainda mais desempregado, sem um tostão... E as crianças que sofrem, tadinhas.

- Você é muito bondosa, Florinha. Me orgulho da minha bela noiva! Que tal uma volta no parque agora? Assim você me conta sua próxima aventura...

- Você gostou hein? Então vamos dar uma volta e prosseguir...