08 setembro 2014

Rainhas

A causa é boa: está por aí nas redes sociais uma campanha para a mulherada postar fotos sem maquiagem. Parem a loucura pela beleza, beleza real, todas são lindas, enfim, aparentemente, uma nova forma de “empoderamento” das meninas.
Na prática? Mais gente evacuando regra na vida feminina*.
É inegável a evolução do mundo no que diz respeito a mulher – considero aqui o “nosso” mundo ocidental, permito-me não avaliar locais em que se trocam mulheres por camelos ou que moças valem menos que vacas, por falta de conhecimento para tal. Olhando o nosso quadrado, não tem o que discutir. Uma mulher não podia votar no começo do século passado, hoje as duas líderes das pesquisas para presidência são mulheres. Muito a fazer, mas muito já foi feito.
Mas falta tanto ainda, uma estrada longa, desanimadora, daquelas que você tem que ir andando a pé, com sol a pino, rezando para que um dia, quando tiver seus rebentos, que sejam todos meninos.
Ainda que existam leis que garantam igualdade entre os sexos e mudanças culturais e de pensamento surgindo – ideias nascidas do equilíbrio e do bom senso tendem a permanecer, assim desejamos -  a evacuação de regra continua firme e forte na rotina das mulheres. E quem são as ditadoras? Surpresa? Nós mesmas.
Conhecem a fascinante mágica do “mudei de lado”?
Sou solteira? Mulher que casa é infeliz. Sou casada? Mulher solteira é encalhada. Tive filhos? Mulher sem filhos é incompleta. Não tive filhos? Mulher que se tornou mãe é escrava dos filhos. Trabalho fora? Mulher que fica em casa é vagabunda. Trabalho em casa? Mulher que trabalha fora largou a família. Trabalho em casa e fora? Nunca vai fazer nenhum dos dois direito. Sou dondoca? Quem trabalha não casou bem.
Vamos apenas revezando nossa opinião conforme nossa própria situação atual, de forma que nunca se sabe qual é a opinião das pessoas de fato. Evoluímos de rainhas do lar e dos sutiãs queimados para rainhas da conveniência, em que a única experiência de felicidade válida é a nossa própria, com direito a muita rede social aceita como evidência em qualquer tribunal.
Uso maquiagem todo dia? Quem não usa é desleixada. Não uso maquiagem? Quem usa é insegura. Faço chapinha? Quem não faz não se cuida. Não faço chapinha? Quem faz não se aceita. Sou magra? É gorda quem quer, quem se largou. Sou gorda? Não passo fome para agradar os outros.
Eu posso seguir essa lista até 2100 e não será suficiente.
E os famosos “toda mulher tem que”, “toda mulher deve”, “toda mulher precisa”? Sinceramente, eu não sei se os homens passam por isso. Mas no planeta mulher, é insuportável. Não passa um dia sem que apareça alguma sábio dizendo o que nos faz mais mulheres que as outras. E dá-lhe regra.
Quando será esse dia, que vislumbro tão longe, em que vamos parar de COMPETIR, exibindo nossas opções de vida como troféus e vamos finalmente CELEBRAR a possibilidade maravilhosa que temos diante de nós: a escolha? Os erros e acertos. A chance de mudar de ideia. E todas as ideias convivendo, diferentes, juntas e igualmente felizes.
Enquanto perdemos esse tempo precioso de nossas vidas, continuam por aí, rindo. Não se engane, não estão rindo para nós. Estão rindo de nós.

* fiquei sem graça de escrever “cag*ndo”. Ô palavra feia…

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