26 outubro 2012

Não aceito o que você fez

Opinião todo mundo tem. Diante de um fato, é normal elaborarmos nossa própria conclusão e até mesmo definir um “certo” e “errado”. Isso é tão comum que, imagino, nem desperta espanto entre nós. Mas devo confessar que, ultimamente, andei pensando no que leva uma pessoa – muitas vezes, eu mesma -  a achar que atitudes que não lhe afetam diretamente devem ter a sua “aceitação”.

Vamos por um exemplo: seu amigo voltou a fumar depois de uma tentativa de parar. O que geralmente pensamos? Que pena, vai prejudicar sua saúde, precisa procurar um tratamento mais sério, vai gastar dinheiro com 2 maços ao dia. Enfim, podemos liberar a cantilena do politicamente correto até não poder mais. Até que surge um mais empolgado que diz “não aceito que você tenha feito isso, que decepção!”.

O fato de ser seu amigo pode lhe despertar certa preocupação sincera, mas, pensando com mais calma: temos o direito do “dedo na cara”? Em nome do “bem”, podemos passar por cima de qualquer teoria de livre-arbítrio? E afinal, o que é o “bem”?

Uma variedade de atitudes do cotidiano desencadeiam este fenômeno: fulano trabalha pouco/muito, fulana tem nenhum/filhos demais, fulano viaja demais/de menos, fulana despreza/puxa o saco dos outros… Formar opinião sobre tudo isso nos parece corriqueiro, inclusive aprovar ou reprovar (e achar que alguém liga). Mesmo que nem seja alguém do nosso convívio. Precisamos dizer que não está certo. E tome dedo na cara.

Não consigo entender como a gente levanta cedo, olha no espelho e pensa: “sou lindo, maravilhoso, dono da verdade, embaixador do bem e do mal, paladino do bom comportamento (eu decido o que é bom) e por isso digo que essa vizinha não tem o direito de comprar uma bolsa tão cara, com tanta gente passando fome. Não aceito”. Ou o mais divertido: “respeito, mas não aceito”.

Sério. Com perdão pelo vocabulário chulo, que porra é essa? Por que fazemos isso?

Uma coisa que já experimentei fazer, nem sempre consigo porque os maus hábitos são os mais difíceis de largar, é pensar assim: “eu não faria assim”, ou “acho que agiria de outra forma”. Mas o outro é o outro, nunca, jamais saberemos o contexto exato em que ele está, ainda mais quando estamos apenas julgando à distância nas internetes da vida.

Talvez, só talvez, o que esteja faltando são gatos. Falta gato nesse mundo. É isso.

O ser humano é muito doido.

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