01 maio 2008

Primeiro de maio de 1994

Vocês lembram?
Eu me lembro de quase tudo, vou contar aqui. Dessa vez, não é fábula.

Na época, eu ainda cultivava o hábito de ir à missa. Era um hábito familiar, não exatamente meu. Eu sempre pegava a corrida já começada.
Naquele domingo, foi igual. Cheguei em casa e soube, olhando a classificação na tela, que ele estava fora. Fiquei puta da vida. "Fora de novo? Nossa, essa mudança de equipe não deu muito certo. É o melhor carro, com o melhor piloto, o que está faltando?".
Pouco depois, soube-se do acidente. Um fim de semana conturbado, com dois acidentes nos treinos, sendo um fatal. "Bruxa solta", como se costuma dizer. Agora um acidente com ele.
Minha família tinha um passeio marcado para depois do almoço. Já como visita, em casa de conhecidos, eu ouvi "a notícia que nunca gostaríamos de dar" (palavras do Cabrini). Ayrton Senna morreu. Ele não falou "faleceu", "nos deixou". Falou "morreu" mesmo. Assim, bruto.
Coitado, ele morreu. E daí? Bem, meus sentimentos para a família dele, enfim, mas o que mudaria na minha vida? Fui para o meu passeio.
Foi o passeio mais sem-graça da minha vida, até hoje.
Lembro-me do Faustão, a toda hora, falando "a morte de Ayrton Senna". Não falou "falecimento", "partida". Falou "morte". Todo mundo estava sendo bruto naquele dia. Talvez, porque todos estivessem chocados demais para pensar em delicadezas.
Daí seguiram-se as especulações sobre as causas do acidente, as acusações contra a Williams, o caixão desfilando pelas ruas, a exploração da mídia, aquele monte de gente que mal sabia o que era Fórmula 1, chorando a morte (não "falecimento", não "partida") de alguém que nem era tão próximo. O máximo de proximidade era aparecer aos domingos de manhã nas nossas casas, a cada 15 dias em média.
Ah, sim, ele ganhava. Era campeão. Era brasileiro. E quem não quer se sentir íntimo de um compatriota campeão?
Senti-me órfã de ídolo, sim. Alguns lamentaram a perda de um talento. Ou a forma da perda, violenta, súbita. Ou ficaram tristes simplesmente pela vida que se foi, ainda no começo. Anos depois, toda aquela reação popular, por uma razão ou outra, me pareceu exagerada. Deve ser porque, com o tempo, abandonei a definição de "ídolo", por achar que nenhum ser humano a merece.
O que não poderíamos imaginar é que, parafraseando a canção, "depois dele, não apareceria mais ninguém" no mundo da velocidade. Ídolo mesmo, daqueles de nos fazer sentar à frente da TV naquelas manhãs de domingo, de adiar um compromisso, de faltar à missa... esse, a gente ainda espera.

Para quem quer ocupar a vaga, boa sorte.


GP Brasil 1991. Lembrança por lembrança,
é melhor guardar esta.

5 comentários:

André Seoane disse...

Chorei muiiiito nesse dia ...

E a Lembrança já me deixa todo "borocochô" ..



bjs Line

André

PS.: Aquele GP BRASIL de 91 foi "O MELHOR!"

Anônimo disse...

Eu sempre assistia as corridas (e assisto até hoje), mas naquele dia eu estava participando de um campeonato de natação, quando cheguei em casa já tinha acontecido o acidente, só não tinham anunciado a morte dele.
Pois é... boa sorte a quem tentar ser maior que a sombra do Senna...

Anônimo disse...

eu estava assisitindo a corrida ... e a frase que mais marcou depois do acidente e de confirmado a morte foi "Nem nós sabiámos que te amavámos tanto"
bom ...pode até ser apelativa e tal ...mas as manhãs de domingo nunca foram as mesmas ...e faz tempo que não vejo a fórmula 1.

Anônimo disse...

eu estava assisitindo a corrida ... e a frase que mais marcou depois do acidente e de confirmado a morte foi "Nem nós sabiámos que te amavámos tanto"
bom ...pode até ser apelativa e tal ...mas as manhãs de domingo nunca foram as mesmas ...e faz tempo que não vejo a fórmula 1.

Raquel

Raphael Mesquita Siqueira disse...

Perdemos um campeão e, pior que a morte de Senna, a geração que se seguiu não teve sorte e suporte suficiente para chegar perto de seus feitos. Isso fez com que os investimentos no "mercado interno" do automibilismo caisse e, com a ajuda da "sensacional" CBA, hoje mal temos uma categoria de fórmula no país. Vai tudo para a super (sem graça) STOCK e Stock Jr.

Compartilhe

Related Posts with Thumbnails