02 novembro 2007

Logo cedo

Ninguém respeita mais nem os feriados. O dia de descanso sagrado. Ok, estou de férias, mas isso não importa. Feriado é feriado. Mesmo sendo algo um tanto tétrico.
Fui acordada com uma revista nova aos pés da cama. A cada ano, a editora A (não falo porque não faço merchan de graça) me manda, como cortesia, uma outra revista, além daquela que eu assino. Junto vem um boleto, caso eu me interesse e queira assinar a nova publicação.

Todo ano eu recebo a revista Cláudia (ah... agora vocês já sabem a editora...), que, francamente, não é feita para mim. "Como enlouquecer seu marido na cama e passar pela crise dos 7 anos", "Problemas com as crianças na escola", "Sua sogra dá muito palpite", "Roupas de grávida por R$ 500,00". Meu mundo não é exatamente este. Mas não os culpo, se não fosse Cláudia, seria Capricho. Sempre pode piorar.
Eis que agora resolveram lançar uma revista para a fase intermediária : para quem não é mais adolescente, mas ainda não é uma senhora. Confesso que me animei. Sempre achei que esta era uma lacuna no mercado de revistas de moças. É uma fase da vida tão interessante, tinha que existir algo dedicado a nós.

Se bem que, quando eu era adolescente, eu gostava de ver as revistas de adolescentes para... achar letras de música. Não tinha Google, Lyrics.com, nada disso. Acesso a letras de músicas era um pouco menos difícil para quem fazia curso de inglês. Mas era uma meia dúzia de letras por folder de cada escola, nem sempre com as músicas que você queria. Letra de música valia ouro. Tudo bem, eu também gostava dos pôsteres dos mocinhos bonitos, no entanto, nunca cultivei o hábito de pendurá-los na parede. Como vocês já sabem, não gosto de idolatrar gente.
Enfim, a visão do feminino que estas revistas têm, desde cedo, é generalista e para a "mulher das massas". Ou seja, a lacuna ainda existe. Talvez nunca seja preenchida.

Não que eu não goste das futilidades ditas "femininas".
Por exemplo, eu adoro bolsas. Sinto-me tentadas a comprá-las sempre que as vejo. Porém, meu controle sobre o orçamento é maior que a tentação. Sempre apelo para o Tio Patinhas que existe dentro de mim para não chorar depois sobre a fatura derramada.
Eu gosto de falar de cabelos. Cremes, técnicas para alisar, para enrolar, para prender, para soltar, óleos, shampoos, escovas, pentes... E ultimamente, presilhas, já que resolvi aderir à franjinha.
Eu gosto de perfumes, de sapatos, roupas... não sou um ET para as tais revistas femininas.

Só que existem algumas diferenças sutis que, na soma final, contam muito para me afastar delas. Eu não dou 300 reais em uma bolsa. Eu pago este valor em algo que ligue na tomada (ou tenha bateria) e apresente, pelo menos, 4 funções distintas. Ah, em shows eu pago também.

Eu gosto de esportes. Não pratico, mas adoro ver. Qualquer coisa. Já vi muito futebol, hoje não acompanho tão de perto - e acabei não definindo um time para torcer. Mas minha programação de domingo é a da Rádio Bandeirantes (pois é, eu aturo até o Milton Neves...). Fórmula 1, acho que dispensa comentários. Vôlei, basquete, tênis, golfe, sinuca, bola de gude, vale tudo. Alguma linha sobre estes assuntos está presente nas tais revistas? Só se for para indicar o esporte que te faz perder "aquelas gordurinhas" ou para falar que "Fulano do vôlei é um gato".

Eu gosto de música. (Jura?). A tal nova revista que recebi veio com 2 páginas do assunto, das 194 totais, com algumas resenhas e entrevistas bem no estilo "vamos colocar isso porque sobrou espaço". E dá-lhe sandália de 600 reais, modelos esquálidas de biquini e 1000 maneiras de enlouquecer qualquer homem na cama. (Essas mulheres são ingênuas demais, contando o segredo do "sucesso" entre 4 paredes para a concorrência... Tolinhas.)

Boa tentativa, revista inovadora. Mas não colou. Você é a revista feita para quem lia a publicação correspondente na adolescência e achava o máximo, apesar de você achar que não. A revista vende a idéia que é diferente e acaba sendo igual de doer. Aí eu vejo uma luz no fim do túnel. As editoras sentem que há necessidade de mudança, ou criação de novos caminhos, publicações mais pulverizadas para cada público, talvez. Só não acharam ainda o caminho das pedras. Eu sei, mas não vou contar. E estou com preguiça de fundar uma revista feminina hoje.

No meio deste texto, acabei pensando em outra questão... o que as adolescentes lêem atualmente? Será que o assunto sexo ainda é bem explorado? Acho que não, já que muitas se iniciam antes mesmo de conseguir interpretar um texto. Qualidade e prazer para quê, né?
Além disso, as revistas ainda são tão necessárias? Veja bem, hoje sim, nós temos Google. Zilhões de portais, zilhões de blogs. Informação praticamente personalizada. Se você não tem acesso à rede, sem desculpa. Se o assunto for quente, as moças que têm internet sempre compartilham com as que não têm (inclusive as tais técnicas para enlouquecer os homens!).
Revista de massa? Não, obrigada. As adolescentes, moças, mulheres, senhoras de hoje podem ler o que quiserem para tirar suas dúvidas, dividir experiências, futilidades, coisas sérias. Se gosta da revista, fica fiel a ela, senão, parte pra outra... ê, gente sortuda...

Diante disso... acho que tenho um boleto para destruir.

Adoro um gloss, mas fica pra próxima.

2 comentários:

Alexandre disse...

do fim pro começo: informação não necessariamente é conhecimento (chovendo no molhado), mas o povo não se dá conta.. é o grande mal/dilema da nossa época.. no mais, com relação às bolsas, eu tenho vontade de fazer uma pesquisa sociológica sobre isso, nos meus 26 anos de existência ainda não encontrei uma única mulher que não se submeta ao fascínio (que eu não entendo) desses artefatos.. (rs)

Cristina disse...

Fiquei com curiosidade de comprar essa revista (pra falar mal depois, como disse pra uma amiga rs), mas já imaginando que não deve ter nada de muito novo.
Comigo acontece o mesmo: claro que me interesso por determinadas futilidades do universo feminino, mas nessas revistas a futilidade é demais pra mim.
E, por Deus, só Freud deve explicar a fixação de todas nós por bolsas e sapatos rs.

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