17 agosto 2013

A carta

“Isto posto, subscrevo-me, certa de que a polidipsia por justiça que invade minh’alma será satisfeita com as torrentes destinadas aos adjacentes da razão.”

- Vixi. Não está meio exagerado? Polipi o quê?

- Excesso de sede. É o termo médico.

- Ainda acho exagero. O pessoal do Atendimento ao Cliente não vai entender e nem responder, querida.

- Se não me mandarem resposta, vou para a TV!

- Na TV vai ter menos sucesso ainda. “Minh’alma” parece trecho bíblico com tradução ruim.

- Meus professores sempre elogiaram minha escrita. A maioria das pessoas normais não alcançam a profundidade. Não caçoe só porque não entendeu.

- Casei-me com um grande intelecto, mesmo sendo um ignorante, é isso?

- Você sempre soube que sim.

- Então mande sua carta rebuscada.

Dois meses e cinco dias sem nenhum retorno do Atendimento ao Cliente.

- Que petulância, onde está minha resposta?

- Posso tentar mandar minha versão?

- Vai tentar no popular, querido? Quem sabe atinja o público…

- Deixe-me tentar, o que vamos perder além do que já foi perdido?

- Mas assine seu nome e passe o corretor ortográfico e gramatical.

“Ou a empresa apresenta uma resposta ou vou botar a boca no mundo e convencer o maior número de pessoas a nunca mais comprar os chocolates Silvestre.”

Deu uma semana, chegou uma cesta de produtos em casa.

Eles se separaram um mês depois.

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