23 novembro 2008

A arrogância

Trecho da entrevista com a antropóloga Eunice Durham, que tem como tema central o despreparo dos professores e sua parcela de culpa na má qualidade do ensino. Este trecho, em particular, me interessou bastante :

Muita gente defende a expansão das universidades públicas. E a senhora?
Sou contra. Nos países onde o ensino superior funciona, apenas um grupo reduzido de instituições concentra a maior parte da pesquisa acadêmica, e as demais miram, basicamente, os cursos de graduação. O Brasil, ao contrário, sempre volta à idéia de expandir esse modelo de universidade. É um erro. Estou convicta de que já temos faculdades públicas em número suficiente para atender aqueles alunos que podem de fato vir a se tornar Ph.Ds. ou profissionais altamente qualificados. Estes são, naturalmente, uma minoria. Isso não tem nada a ver com o fato de o Brasil ser uma nação em desenvolvimento. É exatamente assim nos outros países.

As faculdades particulares são uma boa opção para os outros estudantes?
Freqüentemente, não. Aqui vale a pena chamar a atenção para um ponto: os cursos técnicos de ensino superior, ainda desconhecidos da maioria dos brasileiros, formam gente mais capacitada para o mercado de trabalho do que uma faculdade particular de ensino ruim. Esses cursos são mais curtos e menos pretensiosos, mas conseguem algo que muita universidade não faz: preparar para o mercado de trabalho. É estranho como, no meio acadêmico, uma formação voltada para as necessidades das empresas ainda soa como pecado. As universidades dizem, sem nenhum constrangimento, preferir "formar cidadãos". Cabe perguntar: o que o cidadão vai fazer da vida se ele não puder se inserir no mercado de trabalho?

Nos Estados Unidos, cerca de 60% dos alunos freqüentam essas escolas técnicas. No Brasil, são apenas 9%. Por quê?
Sempre houve preconceito no Brasil em relação a qualquer coisa que lembrasse o trabalho manual, caso desses cursos. Vejo, no entanto, uma melhora no conceito que se tem das escolas técnicas, o que se manifesta no aumento da procura. O fato concreto é que elas têm conseguido se adaptar às demandas reais da economia. Daí 95% das pessoas, em média, saírem formadas com emprego garantido. O mercado, afinal, não precisa apenas de pessoas pós-graduadas em letras que sejam peritas em crítica literária ou de estatísticos aptos a desenvolver grandes sistemas. É simples, mas só o Brasil, vítima de certa arrogância, parece ainda não ter entendido a lição.

Eu sou técnica e tecnóloga formada, ambos por instituições públicas, e sinto a tal arrogância vinda de vários lugares. Pela expansão dos cursos tecnológicos - o meu foi de três anos, na Fatec, os mais atuais, com 2 anos - e por sua curta duração, somos discriminados por alguns como "profissionais de menor valor" ou "sem curso superior".
A verdade é que a grande maioria dos meus ex-colegas de Fatec estão empregados, como afirma a entrevistada. Só não se empregou quem resolveu mudar de área. Eu só não me empregaria na Petrobrás, por exemplo, a gigante e rica estatal, que renega o nosso diploma.
Não está fazendo falta. Não sou bacharel, mas sou limpinha.
Beijosnãomeempregue.

3 comentários:

Anônimo disse...

Isso... não precisamos da Petrobrás \m/

Alexandre disse...

Perfeito, perfeitíssimo.

Cristina disse...

Você tá certa. Na época em que terminei o ensino médio não tinha essa variedade de cursos técnicos, pelo menos onde eu morava, não tinha nada. Aí eu fui ser bacharel e hoje sou uma intelectual desiludida rs.

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