A história que prova que é muito feio demorar tanto para continuar uma história. Então é melhor terminá-la.
- Mããããããããããããããe!!!
- O que foi, querida!
- O Juquinha não se mexe.
Lara olha para o aquário. O peixinho morreu.
- Mããããããããe, faz o Juquinha mexer!
- Não posso, filha. O Juquinha... dormiu.
- Ele morreu?
- Isto mesmo. Ele morreu.
- Mãe... hoje é O DIA MAIS TRISTE DA MINHA VIDA!
Vida de 4 anos, diga-se. Cinco minutos de choradeira e consolo providencial de Lara, uma mãe dedicada.
- Mãe? - Diga, querida.
- Qual foi o dia mais triste da sua vida?
- Bem...
O julgamento transcorrera sem muitas emoções. Lara foi absolvida. A família de Carmina recorreu, no entanto, quanto tempo estas coisas demoram? Volumes e volumes de papel amarelado com palavras bonitas estão em alguma mesa alheia às vidas de Lara, Carmina, Geraldo, Oscar e Juleine.
Os parentes da falecida Carmina tinham certeza absoluta da culpa de Lara, ainda que alguns deles enfatizassem que o seu estado etílico no dia era o grande provocador da tragédia. Uma discussão que acabou mal. O fato é que lhes foi tirada uma pessoa querida, de uma maneira esperada. E nestas situações, você espera encontrar e punir um culpado, seja ele quem for, seja culpado ou não. Nada de justiça divina, porque justiça boa é aquela vista em praça pública. A única que limpa a alma.
Um plano mal sucedido de acusar Geraldo foi descoberto pelos advogados de acusação e a malfadada história de Oscar Londvic, o irmão perdido e vingativo de Geraldo, veio à tona e resultou em sua prisão.
Lara e Geraldo protagonizaram um desastrado revival que trouxe ao mundo, 9 meses depois, a pequena Carlina. A morbidez do nome semelhante ao da falecida foi obra de Geraldo. Casaram-se, sem muito amor, pelo bem da criança. Uma história manjada para ele, uma desilusão com fundo de esperança para ela.
A união ocorreu no começo da primavera, em uma festa ao ar livre, no parque Teldmann, onde há anos atrás, Lara arquitetara uma plano meio bizarro, meio gênio, de enterrar uma arma do crime com o corpo. A arma que usara para matar Carmina e seu bebê.
- Olá Carmina.
Carmina observa Lara pelo espelho.
- Lara! Que surpresa! O que faz aqui? Veio invejar minha felicidade?
- Não. Vim acabar com ela.
E disparou na nuca, sem pestanejar.
Fingiu-se bêbada, proferiu a frase "Geraldo não irá se casar". Plantou o boato de que Geraldo não viria, ajudada por seu ex-namorado. Tanto que Geraldo não conseguiu convencer os investigadores de que não era verdade. Ele se casaria, sem vontade, mas se casaria com Carmina. Pelo bem da criança. Ninguém acreditava.
Oscar removeu o corpo que, com a ajuda da influência do seu pai, respeitado médico, foi incinerado sem deixar pistas.
A habilidosa advogada e ex-traficante de drogas, Clarice, foi escalada como parte do plano para salvar Lara da prisão. Com grande conhecimento dos atalhos da justiça e farta distribuição de entorpecentes gratuitos, nada mais era esperado senão a absolvição. Carmina não era páreo para dúzias de carreiras de cocaína.
Durante a festa de casamento, todos estes fatos eram relembrados por Lara, com pesar. Depois de um plano exaustivo, em que sujou as mãos, enganou dois homens jurando seu amor, ao final escolhendo o que sempre amou, nada havia valido a pena.
Apenas Carlina.
- O dia mais triste da minha vida? Não sei... Mas o dia mais alegre foi quando você nasceu, meu amor!
E de forma melancólica, o casamento durou mais dois anos até acabar em um divórcio anêmico. Geraldo viu-se depressivo e Lara, atormentada pela culpa. Carlina pouco entendia. Não sabia nada de ódio. Gostava do papai e da mamãe. Juquinha. E seu ursinho.
- Ursinho, eu gosto de você. Mas não te amo, porque o amor acaba e fica tudo mó chato.
FIM.
Desde já peço perdão por alguma possível incoerência, conferi o máximo que podia. E pela demora, que tirou o ritmo da história. Era para ser uma história feliz, pois a origem dela é engraçadíssima. Qualquer dia eu conto por aqui.
Um comentário:
Ah, ficou legal! Eu achava que ela não tinha matado a outra de verdade... rs
E "Carlina" foi sensacional :p
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