09 junho 2012

Deixe o cabelo crescer

Os engraçadinhos são aqueles que fazem piada de suas próprias fragilidades e defeitos, zombam de si mesmos como se aceitassem sua condição de maneira pacífica, riem do espelho.

No entanto, não raro, o motivo da chacota os deixa zangados, ainda que nunca demonstrem.

Era o caso de Maria, mas ela não se conteve e, sem perder a piada duvidosa, publicou:

“Quer cobertor de orelha neste inverno? Deixe o cabelo crescer! "

De onde surgiram alguns apoios na forma de “curtir” e apenas um comentário, de Joana:

“Não é mais fácil arrumar um namorado? Rs…”

Maria fechou o notebook e pôs-se a pensar que tipo de pessoa acha mais fácil arrumar namorado que deixar o cabelo crescer sozinho.

Lembrava-se de Joana, da escola. Foram amigas, da mesma panela. A palavra que lhe vinha a memória era… flutuar.  Joana não andava, flanava, flutuava. Tinha o que se chama de carisma, talvez? Não dependia de absolutamente ninguém para conseguir o que queria. Não precisava que o amigo lhe apresentasse o outro amigo, que o primo lhe apresentasse o vizinho. Bastava se deixar conhecer e o resto era produzido pelo seu encanto pessoal. Não só amorosamente. Professores, colegas, familiares, amigos de amigos, ela flutuava, todos seguravam os queixos e sucumbiam, conquistados, por terra.

Se nada havia mudado na vida de Joana – parece que não – ela ainda flanava por aí e, não somente isso, agora havia adquirido hábitos de zombeteira.

Maria, por sua parte, não desfilava encanto algum. Desafia o encanto, lutava, brigava e, de vez em quando, vencia pela insistência – e todos nós sabemos que vencer pelo cansaço é uma vitória um tanto menor. Por muitas vezes, lutava e era ignorada, corria, não flutuava (nem pensar), batia os pés pesados no chão sem leveza alguma, sendo ela mesma, esperando que alguém entendesse, gostasse e, eventualmente, amasse.

Definitivamente, na vida de Maria, nada mudara.

Marcaram de tomar um café no shopping, Maria e Joana, para trocar figurinhas da vida, talvez para decidir quem havia colecionado mais decepções, porque sabemos que ninguém esfrega suas alegrias na face de outro até que se conheça bem o terreno.

Entre coisas boas e ruins, ambas concluíram que chegaram até ali de forma bem parecida, porque parecida é a vida de todo mundo, uma vez que todo mundo chora e ri várias vezes ao dia, ao mês, ao ano, que decepção é decepção, não há melhor nem pior.

E que flutuando ou pisando duro, viver pode não ser tão fácil, mas o bom sempre vem.

Joana explicou a Maria que o comentário tinha um motivo: seu irmão havia se separado recentemente e Joana achou que eles combinavam de alguma forma. E que seria interessante tê-la por perto, depois de tantos anos.

Maria apenas pensou que manteria os cabelos compridos. Mas só porque queria assim.

(Bem…  acho que esse é o texto de Dia dos Namorados!).

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