15 novembro 2009

“Por favor, tirar el papel em el lixo. Obrigado.”*

Eu cursei o ensino técnico e era o terceiro ano. Naquele ano, passamos a dividir a escola com turmas do ensino médio regular, pois na época o governo determinou que o ensino médio e o técnico deveriam ser cursados separadamente – não como eu, em quatro anos, tudo junto em um único período, mas sim três anos de ensino regular e dois de técnico, podendo o aluno ir a um de manhã e ao outro à tarde.

Foi durante uma aula de… de… de que mesmo? Não lembro. Não devia ser uma aula muito interessante, porque nos chamou muito mais a atenção algumas frases em espanhol que vinham da sala ao lado. A professora falava e os alunos repetiam.

Olhamos uns para os outros com cara de espanto, “como assim, tem aula de espanhol agora? Além de inglês, espanhol?”

Além de espantada, me senti um pouco excluída. Por estar quase saindo da escola, à caminho da faculdade, eu perderia aquele trem. Se quisesse, aprenderia espanhol por minha conta.

A sensação de exclusão não parou naquele dia da aula ouvida por acaso. Não falar espanhol na América Latina (o continente físico) é como não pertencer a ela. Isso é muito perceptível nos canais a cabo. “Canal 123 Latinoamerica” é um canal que fala espanhol. Um CD lançado para vender na América Latina é em espanhol. E nós, somos de onde? Aconteceu algum movimento de placas tectônicas que causou rachaduras na terra e nos lançou para o meio do mar, de modo que o Brasil tornou-se uma ilha entre a dita América Latina e a África? E eu fico p… da vida em ver propagandas em espanhol passando aqui, sem legendas, como se fosse minha obrigação entender. Ou passa na minha língua ou incorpora um novo idioma no meu dia-a-dia, certo?

A entrada do espanhol na nossa rotina, da forma que deveria ser (pela educação formal, não pelas embalagens de pasta de dente) não deve acontecer tão cedo. O ensino obrigatório de espanhol ainda passa por dificuldades e, não sei por que, imagino que o mesmo ocorra nos países “latinos” (nós não somos, lembra?) que estão tentando introduzir o ensino de português nas escolas.

Claro, os idiomas são parecidos, a comunicação acontece na maior parte das vezes, o portunhol salva algumas situações e ainda causa boas risadas. Mas ainda não nos inclui na América, a “Latina”.

Por enquanto, o jeito é tomar umas aulinhas nos canais a cabo…

* O título é uma referência a uma frase lida num banheiro em Floripa. Portunhol em sua mais pura forma.

Um comentário:

Milton X disse...

Nossa, que memória a sua... Percebo que te marcou muito esse dia... Vamos pra Buenos Aires qq dia? ou Montevideo? MiACa precisa conhecer a verdadeira América Latina! rs

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