31 julho 2009

O que sei sobre fretados – cronologia

25/05/2009 – Começa a se espalhar a notícia sobre o Projeto de Lei 530/08, que visa restringir a circulação de ônibus fretados em determinados pontos da cidade de SP. Desde dia em diante, milhares de e-mails circulam entre os usuários. Lembrem-se que boa parte de eles é analista de sistemas, como eu. E lembrem-se também que, se uma empresa se dispõe a contratar mão-de-obra vinda do litoral, é porque ela não deve ter encontrado o que queria na própria cidade. Não tem essa de “empresários bonzinhos fazendo justiça social”.

Veja declaração de um vereador, nesta mesma data, sobre o assunto :

“Isso é de longo prazo. Não é para amanhã e nem para a semana que vem. O sistema de fretamento é importantíssimo para a cidade. Tanto que queremos a migração daquele que usa seu carro hoje para o fretamento e futuramente a integração do fretamento para o sistema sobre trilhos. As pessoas não serão largadas em bolsões e nunca mais circularão por São Paulo. Não é essa a ideia do projeto”.

Não é para amanhã, nem para a semana que vem. Demorou longos dois meses!

Um dos e-mails que circulou listava os endereços de e-mail de todos os vereadores, de rádios, TVs e jornais. Os usuários espalham seus argumentos, explicam porque o fretado se tornou necessário, que não se trata de um “luxo”.

Destaco novamente que não conheço um único usuário que não seja a favor de regulamentar os ônibus fretados. Não é o caso de descer na porta da empresa e sim de equilibrar e racionalizar. Não radicalizar.

27/07/2009 – Dia de caos em SP. O secretário de transportes (em minúsculo mesmo) da cidade quase apanha na Estação Santos-Imigrantes. O metrô, os circulares, as ruas, a cidade como um todo, está completamente despreparada para a nova regulamentação dos fretados.

28/07/2009 – A prefeitura diz que a lentidão no trânsito caiu 74% no primeiro dia de restrição aos fretados. Só não falaram em que planeta foi.

O secretário de transportes libera a restrição na Berrini, alegando que lá o fretado é necessário porque não há metrô. Incrível que ele só descobriu isso agora. Foram criados pontos de embarque/desembarque para evitar que os ônibus fiquem parando em qualquer lugar e atrapalhem os demais veículos. Por que não uma medida sensata como essa desde o começo?

29/07/2009 – O secretário de transportes admite que imaginaram uma coisa e aconteceu outra. Criaram vários pontos de parada de fretados achando que os ônibus se dividiriam entre eles. Na verdade, os veículos malditos se concentraram onde a maioria precisa descer. Dã.

30/07/2009 – Descobre-se que a prefeitura maquiou os números que indicavam melhora no trânsito devido às restrições aos fretados. Sem comentários.

31/07/2009 – Todas as notícias que busco sobre “trânsito em SP” nessa sexta destacam : lentidão, lentidão e lentidão. Como assim, São Kassab não havia encontrado o culpado pelo trânsito, os malditos fretados?

As linhas regulares de ônibus para o litoral paulista ganham mais usuários com a restrição aos fretados. Pronto, achamos alguém que lucrou com isso. As empresas de ônibus propõem que sejam criadas novas plataformas de embarque, que hoje só existem no Jabuca. $$$.

Novos protestos foram organizados na estação Santos-Imigrantes. Ao contrário do que declara o prefeito, dizendo que os protestos são “uma baderna organizada por parte de pessoas que têm interesses econômicos em jogo”, estas manifestações são fruto de e-mails e e-mails espalhados e reenviados pelos milhares de usuários das linhas. Acreditem em mim que as fontes são quentes.

Isso tudo vem ao encontro do que o meu colega de blogagem Alexandre escreveu aqui nos comentários (veja). Nós somos capazes de nos organizar, protestar, reivindicar, desde que sejamos atingidos na carne. Mas por que não fazer o mesmo para exigir o básico que nunca temos? Educação de primeira, saúde decente, política de segurança pública, honestidade dos políticos, transporte público? Por que só protestar quando o fretado pára na frente do meu carro, estaciona na minha porta, ou quando o fretado tem a circulação restringida nos arredores da empresa onde trabalho?

Nossos governantes não andam de fretado, nem de circular, nem de metrô. Às vezes nem de carro. Vêem toda a confusão do alto de seus helicópteros.

Enquanto nos preocupamos em culpar uns aos outros, alguém está ganhando. E muitos estão perdendo.

Um comentário:

Alexandre disse...

Bom, isso tudo pelo menos serviu e está servindo pra deixar a situação em evidência e aos trancos e barrancos melhorando o sistema.

O modo como a Prefeitura encaminhou a questão acabou sendo desastroso. Faltou tato político e organização. Mas pelo menos ela encarou o problema.

Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos, e quem sabe a coisa não aumenta de dimensão e salta pra um enfrentamento maior em relação ao transporte público urbano paulistano como "um toldo".

:)

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