22 abril 2009

Era uma vez

Exercício de futurologia.

- Vó, posso te fazer uma pergunta?
- Claro, querida.
- Hoje na aula de história, a professora comentou que já foi crime baixar música da internet. É verdade?
- Baixar de graça, era sim. Se fosse pago, não tinha problema.
- Ah, tinha que pagar a conta de download.
- Não, querida, não existia essa conta. Tinha que pagar por cada conteúdo baixado, um de cada vez.
- Como assim? Não tinha a conta mensal, como temos conta de água, luz, celular?
- Bem, essa é uma longa história. Quando os pioneiros começaram com o compartilhamento de músicas, lá no século passado, foi entendido como violação do direito autoral.
- Hein? O que é isso, vó?
- É o direito que a pessoa que fez tem sobre a sua obra. Cada autor tinha que receber pelo conteúdo gerado, tanto em CD como em mp3. Antes que você me pergunte, CD é aquele disquinho antigo em que vinham as músicas. Mp3 é o que vocês chamam hoje de Mpxyz, só que com qualidade bem inferior. Sabe como é, isso foi lá em 1999, 2000…
- Mas vó, hoje eu acesso pela internet várias obras de artistas do mundo todo, pagando uma tarifa que vai diretamente para os autores. Não é a mesma coisa?
- Não, claro que não. Por exemplo, quando você comprava o CD, tinha que pagar por ele não só o que o artista deveria receber por direito, mas os impostos, os custos de produção, a parte da gravadora…
- Gravadora?
- É, a empresa que lançava os CDs dos artistas.
- Eles precisavam de uma empresa para isso?
- Bem, eles achavam que sim. Na década de 00, um grupo chamado Radiohead descobriu que não. Mas eles só se livraram da gravadora depois que já eram podres de famosos. Só muitos anos depois é que os artistas em geral perceberam que, com a internet, não precisavam de intermediários.
- Mas tem imposto na conta de download, né, vó?
- Com certeza! ISSO nunca vai mudar…
- Vó, os artistas não achavam que deixar o produto caro acabava impedindo que eles tivessem mais fãs?
- Alguns poderiam pensar assim, querida, mas muita gente só queria ganhar muito dinheiro e pronto. Não estavam nem aí para a qualidade do seu produto ou para os seus fãs com menos condições financeiras.
- Então as pessoas que baixavam de graça na internet eram criminosos mesmo?
- Sim, porque eles baixavam sem pagar nada. Na verdade, havia vários tipos:
os que gravavam em CDs e revendiam por um preço bem mais baixo que o dos CDs originais – a gente chamava de “piratas”;
os que baixavam para uso pessoal, mas mesmo assim, compravam os CDs originais;
os que deixaram de comprar CDs de vez;
os que compravam menos CDs, mas para as bandas preferidas, faziam questão de pagar, qualquer que fosse o formato;
os que baixavam um monte de coisa sem critérios, longas discografias, e não ouviam sequer 10%;
os que procuravam baixar coisas raras, que muitas vezes nem eram lançadas no nosso país;
e muitos outros…
Era uma novidade e, por isso, era uma confusão total no começo. As pessoas que faziam as leis, na maioria das vezes, mal sabiam abrir o seu próprio e-mail, como poderiam entender a complexidade daquela mudança? Demorou muito para acharem um meio-termo que pagasse o artista, sem pesar a mão no preço para o consumidor.
- Jura, vó? É tudo tão simples hoje… Difícil acreditar que era complicado desse jeito!
- Pois é, netinha, quando há dinheiro no meio, sempre complica!
- Vó, só mais uma pergunta…
- Diga, querida.
- Posso escutar esse tal de Radiohead?
- Claro que sim! Mas você vai ter que converter, está tudo em mp3. Não repara o chiado, é uma gravação de 50 anos atrás…
*
Pela PAZ no mundo dos downloads. Um dia, vão achar uma solução pra isso. Espero que eu ainda esteja por aqui.

2 comentários:

Café & Cia disse...

Saudades do futuro.

Semiramis disse...

Se o meu neto quiser escutar Radiohead eu ficarei muito feliz!

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