12 abril 2009

2 - Raiva

Voltei.
Eu poderia ficar horas ou dias escrevendo, se colocasse para fora tudo o que pensei nesses dias. Não que houvesse tempo sobrando, pois atividades familiares tomam tempo e distraem bastante. Os cinco minutos antes de dormir, o tempo entre um táxi e um ônibus, foram suficientes para provocar pensamentos.
Não sei se será possível conectar tudo em um só texto, se ao final esse post pode se tornar uma insuportável colcha de retalhos. Vamos ver o que sai.
Ficar em família, em um clima de paz, felicidade e harmonia, faz muito bem para nós. Quem tem a chance, não desperdice. Por mais deslocado que você se sinta, você sabe que um pedaço seu veio dali.
É bom ser apenas mais uma da família, aquela moça meio quieta e esquisita, que ri alto e gosta de contar piada, que mexe em computador, que gosta de esportes e de música além da medida saudável, que é irremediavelmente solteira, meio teimosa, que volta e meia aparece falando grosso, dois minutos depois já está gargalhando... Talvez acrescente-se aí também que sou a moça de quem se esperava nada, que surpreendeu, mas agora voltou-se a esperar nada dela. Ou talvez esperem. A esperança é meio dura de morrer.
Um banho de normalidade é absolutamente necessário. Ter conversas simples, ver filmes comuns, ouvir músicas populares (ou nem ouvi-las), voltar à Terra, ver que você é só mais um, que a importância que você dá a si mesmo só tem validade no seu mundinho restrito e fechado, que para o mundo normal, você é “meio esquisita mais gente boa”. SÓ.
Cheguei à palavra “só”, para voltar mais uma vez ao tema do “qual será meu papel nessa vida?”. “Mudança” é uma outra palavra que não me sai da cabeça, o que ocorre é que nem sei por onde começar. A ideia de largar tudo e ir para outro lugar, recomeçar, só é atrapalhada por um detalhe : para onde quer que eu vá, eu vou junto. Ficou meio besta, mas acho que deu para entender. Não resolve muito mudar o lugar em que você mora, se as dúvidas e os medos residem na sua própria cabeça.
Voltando aos programas normais de família, que eu falei que são bons e necessários. Eu entendi isso, mas de forma alguma me iludi. Uma hora enjoa. Uma hora dá uma inveja braba de não ver graça naquilo como roteiro de vida. Uma hora dá desespero porque é exatamente assim que você vai acabar. Ou pior ainda, sozinho e largado, abraçado no seu estilo descoladão.
Não que eu não queira um amor tranquilo com cheiro de fruta mordida, crianças com a minha cara e a personalidade do pai (na parte das crianças, eu ainda tenho muitas dúvidas), de ter um emprego, chegar em casa à noite, pôr a roupa na máquina, ajudar meu rebento a fazer a lição de Matemática (e omitir que eu só tirava 10, para não pressionar o fofinho), trocar dicas com outras profissionais e mães de família sobre como é equilibrar-se em vários papéis e não ficar doida. Provavelmente eu quero tudo isso mesmo, mas será que o caminho não pode ser mais excitante? Ou eu não quero nada disso?
Sabe o Peter Parker, que percebeu que os poderes lhe traziam grandes responsabilidades? Ele achou o seu papel na vida. Droga, não estou me comparando a super-heróis. Foi só um exemplo. Eu não vou salvar ninguém.
Eu só queria um pouco mais de tempo. Comecei a perceber esse tic-tac regressivo aos 26. É como os 5 passos da morte : negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Digamos que estou fazendo a transição da negação para a raiva. Eu já sei que essa de “papel especial no mundo” furou há tempos, isso só acontece com jovens brilhantes com menos de 25 anos. Agora estou ainda negando, puta da vida. A minha vida está morrendo e eu não sei o que fazer.
Já me vejo ridiculamente barganhando para permanecer no meu estágio de sonho. Logo depois, triste e arrasada. E assim, finalmente aceitar meu papelzinho pequeno, de figurante que move a cadeira de lugar no cenário e ninguém na plateia percebe.
Só para completar, na volta para casa, um ladrãozinho assaltou o caixa do ônibus em que eu estava (evite o cais de Santos à noite, ficadica). Felizmente foi tudo rápido, não houve agressões ou ferimentos e perderam-se algumas moedinhas e trocados. Ficaram apenas o susto e a lembrança de que, além de tudo, eu moro em um país de merda. Esqueci de acrescentar que amanhã é mais um dia de trabalho.
Puta que pariu, que merda.
*
No mais, foi tudo ótimo. Sem muito drama, vai, eu não sou assim. Comi como se o mundo fosse acabar nas próximas horas, chocolate, pipoca, pizza e churrasco, todas as porcarias que nos fazem não entrar nas roupas. Adoraria terminar a semana que vem com 2 quilos a menos. Eu tenho um plano, vamos ver se ao menos este funciona.
*
Eu senti muita falta da ESPN. Só pra constar. Agora eu vou ver o beisebol! \o/

2 comentários:

Alexandre disse...

Reunião familiar tem dessas. Mas a grande questão é essa tentativa de fugir de si mesmo. Conseguir conviver melhor consigo mesmo já é um grande passo nesse processo lento de aceitação e desintegração.

Semiramis disse...

Também estou na fase da raiva...

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