18 março 2009

Salve Mozz

Morrissey, o pária
(Trechos da entrevista de Morrissey à revista Technikart, traduzida pela Folha. A entrevista inteira está
aqui, para assinantes Folha ou UOL).

Morrissey, que fará 50 anos em maio, acaba de lançar seu novo álbum, "Years of Refusal" (Anos de Recusa, gravadora Decca/Polydor).
"Tenho horror a drogas. Tenho horror a cigarros. Sou celibatário e tenho um modo de vida muito saudável", diz. E proclama: "Somos reacionários". Mais tarde: "Os Smiths estavam em ruptura com tudo o que sua época veiculava".
(...)
"Na realidade o mundo não quer ouvir apenas Brócoli [Britney] Spears. Também existem ouvintes esclarecidos."
Ofereceram a ele US$ 75 milhões para que reformasse os Smiths. "Eu preferiria comer meus próprios testículos, o que seria uma façanha e tanto para um vegetariano como eu."

PERGUNTA - Você parece permanecer mais no plano da recusa do que no da aceitação. Vem daí o o título de seu novo álbum?
MORRISSEY - É assim que vejo minha posição artística no meio musical. Desde o começo, vejo-me obrigado a recusar todo tipo de pressão. Para juntar à sua volta a grande família das celebridades da cultura pop, você precisa aceitar certas concessões. Não faço parte desse mundo. Isso não é a cultura pop, é a cultura puta.

PERGUNTA - Nos anos 1980, a recusa do nivelamento vinha dos selos pós-punk: na realidade, você se manteve fiel a essa ética, a ética da música indie.
MORRISSEY - Bem... Ao espírito da independência, OK.

PERGUNTA - É isso que significa "indie"? Independência?
MORRISSEY - Originalmente, sim, mas o indie virou um gênero musical, do qual minha música não faz parte. Hoje o indie virou um "look", uma postura, mas, no início dos anos 1980, era uma profissão de fé e também a promessa de alcançar um público muito reduzido. Naquela época era muito difícil os independentes chegarem a um público grande. Os Smiths conseguiram, mas éramos casos isolados.

PERGUNTA - Você usa sua celebridade para obrigar as pessoas a deixá-lo em paz...
MORRISSEY - Não sou uma celebridade. Meu status não tem nada a ver com essa palavra.

PERGUNTA - Esse título de "pária" sempre o agradou? Por quê?
MORRISSEY - Porque é o que eu sou. Eu me sinto antissocial. É a verdade, eu sou um antissocial. Ao mesmo tempo em que tenho milhares de fãs, mal sou tolerado pela indústria, nunca fui convidado pela MTV, continuo a ser um artista à margem. Não é como se eu tivesse sentado e decidido "vou ser um marginal". Eu sou marginal no meu eu mais profundo. Portanto, não tenho escolha.

PERGUNTA - Apesar disso, você se integrou à sociedade.
MORRISSEY - Não, de jeito nenhum. Os valores que a sociedade favorece não são os meus. Não quero formar um casal bonito, não quero me integrar aos clichês de uma vida doce, feliz e perfeita. Já há gente suficiente comprometida com isso -não é preciso que eu também o faça.

PERGUNTA - Isso é recusa ou é incapacidade?
MORRISSEY - As duas coisas. Sou tremendamente individualista. Nego-me a ser capaz de pensar como meus vizinhos. Venho sobrevivendo assim há anos; controlo meu corpo e tenho poucas razões para andar na companhia daqueles que chamam de meus semelhantes.

PERGUNTA - Mas você vai a algumas festas de vez em quando, não?
MORRISSEY - Festas? Não, não. É entediante demais, de verdade. A presença das pessoas me desequilibra. A necessidade de falar... é difícil demais.

PERGUNTA - Com os Smiths, você cantava como é difícil viver no mundo. Esse ainda é um de seus temas mais importantes?
MORRISSEY - Sim. Não é um assunto que varie conforme mudam as tendências. Em todo caso, não vejo como eu poderia deixar de escrever sobre isso: escrever sobre a condição humana, não existe nisso nada de superado. É algo que será sempre atual.

PERGUNTA - Você é uma espécie de mito vivo. Ainda tem alguma coisa a provar?
MORRISSEY - É claro que sim. Para começar, não devo decepcionar aqueles que me acompanham há tanto tempo e que vão continuar a ouvir minhas canções novas. Depois, sempre há novas pessoas a convencer. E há também os artistas à minha volta. Tenho que provar para mim mesmo que continuo a ser essencial a eles.

PERGUNTA - Você ainda pensa que "todos os dias são silenciosos e cinza" ou há dias em que se diverte?
MORRISSEY - Hoje sou mais tolerante comigo mesmo. Quando você é jovem, é mais intransigente, quer a toda hora provar alguma coisa. E então você chega aos 23 anos, sua mãe morre, e você aprende a tolerância.

PERGUNTA - Se você ficasse feliz, teria menos a dizer?
MORRISSEY - Estou disposto a correr esse risco.

PERGUNTA - Com você, é "no sex" e "no drugs"?
MORRISSEY - De certo modo, a contracultura virou uma mentira: findo o lado espontâneo, os artistas do rock agem da maneira que se espera deles, ou melhor, como pensam que se espera deles... Isso virou uma camisa-de-força que é preciso vestir para passar uma impressão de descontraído. Mas, se você olhar os artistas da geração da contracultura, hoje eles se comportam da maneira mais sadia possível. Há uma inversão de gerações, um retorno.

PERGUNTA - As pessoas perguntam a McCartney há 40 anos quando os Beatles vão voltar juntos. E você, nunca vai aceitar as somas colossais que lhe são oferecidas para voltar a tocar com Johnny Marr ou não tem tanta certeza assim?
MORRISSEY - Nunca me acontece de não ter certeza quanto a isso. Ou de me sentir tentado pelo que chamo de concessão. The Smiths foi algo que aconteceu, que teve um começo e um fim e que foi quase perfeito. Não devemos mudar isso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ele tá certo, pra quê voltar? A história está do lado dele, pra quê mudar isso? Todas as bandas que tem 'revival' nunca são as mesmas...

Alexandre disse...

Se mata Morrissey!

(desculpe, não resisti. rs)

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